Há algo mágico nas lembranças que eu tenho do meu pai. Sua figura imponente e a maneira como ele encarava a vida com tanta determinação sempre foram motivos de admiração para mim. No entanto, foi só com o passar do tempo que pude compreender o verdadeiro significado de suas ações e, finalmente, perceber o quanto somos parecidos.

Certo dia, enquanto observava fotografias antigas, mergulhei nas memórias que me conectavam ao homem que me criou. A cada imagem, eu me via refletido nele, herdeiro de suas virtudes e também de suas falhas. Como um quebra-cabeça emocional, as peças se encaixavam, revelando os traços que me foram transmitidos, não apenas pelos genes, mas pelo exemplo que ele deixou em minha vida.

Lembrei-me de suas cismas, suas teimas e da forma como ele sempre insistia em buscar a concretização de seus sonhos. Era quase como se ele enxergasse além do horizonte, apostando nas coisas mais distantes e, muitas vezes, inalcançáveis. Agora, compreendo que essa ânsia de desbravar o desconhecido também existe em mim, uma sede por novas experiências e conquistas.

Enquanto eu observava as fotos, percebi como minha jornada tinha sido moldada por sua influência. Os traços de coragem e obstinação que ele exalava transbordavam em cada desafio que eu enfrentava. E, por mais que às vezes eu me sentisse aquém das expectativas, ele sempre me encorajou a seguir adiante.

O quarto que eu costumava ocupar na casa permaneceu intocado por alguns anos, como um santuário da saudade que ele mantinha. Era como se, em seu silêncio, ele expressasse o desejo de me ver retornar algum dia. Mas, ao mesmo tempo, ele entendia minha busca por independência, afinal, essa sede de liberdade também tinha origem nele.

Lembro-me de quando ele me ensinou a voar. Metaforicamente, é claro, mas suas palavras e conselhos foram como asas que me permitiram alçar voo rumo aos meus próprios sonhos. Ele sempre acreditou no meu potencial, mesmo quando eu duvidava de mim mesmo.

E agora, pai, aqui estou eu, emaranhado em suas lembranças e em nossas semelhanças. Sou resultado daquilo que você me deu, do amor, dos ensinamentos, dos valores que transmitiu. Estamos misturados, entrelaçados por um laço inquebrável, porque, afinal, pais são doadores de si.

E é nessa saudade que encontro forças para continuar seguindo meu caminho. Seu nome, Raimundo Medrado, é uma motivação, e nele saúdo todos os pais do mundo, honrando a memória e o legado que você deixou em mim.

Não sou de chorar, mas, sinto a sua falta. Entretanto, sorrio ao perceber que, de certa forma, você ainda vive em minhas ações. Nossos caminhos podem ser diferentes, mas nosso vínculo é eterno, pois você sempre será parte de quem sou.

…Se eu me sentir sozinho, ou sair do caminho
e a dor vier de noite me assustar,
êh meu pai, olha seu filho meu pai.

Raul Seixas