A febre me induz a escrever, como se pudesse aliviar um pouco a sensação de inchaço na cabeça. Maldita gripe que me abraça há três dias seguidos, sem dar trégua.

Acordo suado, debaixo de pesados cobertores, após uma overdose de chás e analgésicos, em uma busca louca e ineficaz por cura farmacêutica. Não acredite em propagandas ou simpatias.

Espero. Tenho esperado até agora. A combinação de preguiça e o clima frio de São Paulo me presentearam com essa desesperadora gripe. Dizem que não tem cura, então, quando ela finalmente decidir partir, não será cedo o suficiente!

Foram tantos lenços de papel utilizados que poderia reconstruir uma árvore. Engoli cartelas inteiras de comprimidos coloridos, seguindo a prescrição médica, que só sobrecarregam meu estômago vazio. E o mais interessante é que todos me olham como se eu não estivesse passando por nada… É só uma gripe.

Será que as pessoas só levarão a sério quando a gripe começar a matar?

Bem, espero que não seja o meu caso! Não tenho nada contra a morte, mas, pensando bem… morrer de gripe? Isso me igualaria à classe dos frangos e dos suínos. Oh, espera aí!

Além disso, tantas pessoas morrem de doenças com nomes assustadoramente terríveis e impronunciáveis, e eu teria que morrer de gripe?

Sabe de uma coisa? Não vou me importar com a falta de consideração dos outros em relação à minha gripe. Sim, eu a possuo. Meus olhos pesam, minha cabeça e corpo doem, respiro mal pra caramba, e ainda tenho que tentar convencer as pessoas de que estou doente? Desisto!

Sabe de uma coisa? Vou voltar para debaixo dos cobertores e aproveitar que o tempo está cada vez mais frio, ou talvez seja a febre me aquecendo. Já providenciei bons livros para passar o tempo antes da febre ir embora.

Enquanto isso, aproveito para prolongar um pouco mais a vida da minha gripe e fortalecer os laços de preguiça que me prendem à minha cama macia e quente.

Quando ela finalmente se for… eu volto.